Arte, Inteligência Artificial e Stanley Kubrick

Como a Arte é criada na Fronteira

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Oi, pessoal! Feliz ano novo e para começar 2025, eu quero trazer uma reflexão sobre arte e tecnologia.

Abaixo o resumo de um minuto:

  1. IA não é um artista, mas sim uma ferramenta. É mais parecida com uma câmera ou um pincel do que com Van Gogh ou Mozart

  2. A IA é otimizada para entregar uma resposta mediana. Os modelos são projetados para lhe dar “o que você esperaria” A arte é o oposto do mediano ou previsível

  3. Ela é uma excelente ferramenta para acelerar processos criativos, mas não como substituta da visão única do artista ou inovador

  4. Stanley Kubrick é um exemplo sobre como utilizar novas ferramentas no desenvolvimento de arte

O que é Arte?

A arte é a materialização do inesperado. Ela nasce onde a repetição cessa e a originalidade floresce. É onde o comum se transforma em extraordinário e o previsível cede espaço ao mistério.

Arte não é apenas técnica ou habilidade; é a expressão da humanidade, carregando nosso olhar único, emoções e intenções. A verdadeira arte está fora da “curva de distribuição” do que já foi feito. O artista é aquele que trabalha na fronteira, tateando o novo.

Como uma pessoa que cria conteúdo, investe em empresas de tecnologia e tem como principal hobby consumir arte, penso muito sobre “Arte e Inteligência Artificial”.

Eu acredito que as promessas exageradas e utópicas sobre IA fazem mais mal do que bem. Um dos erros que mais vejo é a propagação que “Inteligência Artificial pode fazer Arte”.

Na verdade, IA não é um artista, mas sim uma ferramenta. É mais parecida com uma câmera ou um pincel do que com Van Gogh ou Mozart.

IA e a busca pelo mediano

Os modelos de IA que mais utilizamos atualmente são os LLMs (ex: ChatGPT). Estes são alimentados com enormes volumes de dados que representam uma ampla variedade de textos, imagens e informações coletadas. A maioria desses dados é composta por elementos comuns, compartilhados e amplamente reconhecidos na sociedade. Quando colocamos todos eles juntos, os dados formam uma “distribuição” de conhecimento e padrões.

Curva Normal

O objetivo da Inteligência Artificial é prever padrões e gerar respostas que atendam às expectativas do maior número possível de usuários. Essa é uma forma elaborada de dizer que a IA está simplesmente tentando adivinhar qual é a palavra ou imagem mais provável de satisfazer o usuário.

Quando pedimos uma imagem, texto ou outro tipo de conteúdo, a IA analisa probabilidades com base nos dados de treinamento para fornecer uma resposta que esteja no centro dessa distribuição.

Em resumo, a IA é otimizada para entregar uma resposta mediana. Esses modelos são projetados para lhe dar “o que você esperaria.” Agora, vamos refletir: Arte é a busca pelo mediano e pelo esperado?

A mediana é algo familiar. Ela minimiza a quantidade de pessoas que acham que algo está “errado” ou “estranho”. A IA é limitada porque é treinada em dados históricos, que representam tendências, opiniões e padrões já existentes. Ela é criada para refletir sobre o que já foi feito, e não sobre o que é inovador ou fora da norma.

Ela busca gerar conteúdos que são “bons o suficiente”, mas raramente excepcionais ou revolucionários. Peça o desenho de uma casa e ela criará uma representação que combina os atributos mais comuns de casas presentes nos dados de treinamento. Ela não inventará uma casa fantástica; isso, mora apenas nas mentes dos grandes arquitetos.

Desenho que a IA fez a partir do prompt “Me desenhe uma casa normal”

A IA acelera o processo criativo

É preciso da intervenção humana para que a IA crie uma casa fantástica. Somos nós que temos o olhar que desafia padrões, o toque que transcende o esperado. O prompt humano força o modelo a explorar os limites da criatividade programada da máquina. O potencial de uma ferramenta para criar arte depende de seu usuário.

IA é uma excelente ferramenta para acelerar processos criativos, mas não como substituta da visão do artista. Apenas o ser humano possui engenhosidade.

Casa que a IA desenhou depois de algumas interações baseado no prompt inicial “Casa do Woody & Buzz, com perfil futurista, rústico…”

Voltando à pergunta: o que é Arte?

Arte é o que está na fronteira, fora da distribuição do que já foi feito. Inspirando-me na Bíblia, a Arte é “o quente ou o frio; se for morno, nós a vomitamos”.

E é aqui que se encaixa o Stanley Kubrick. Ele foi um artista que durante sua carreira abraçou as novas tecnologias e as incorporou nos seus filmes. Ele elevou a fronteira do possível utilizando as ferramentas de vanguarda. Ele é um exemplo para qualquer pessoa que se pergunta “o que fazer com a IA?”.

Artistas e Novas Tecnologias: Stanley Kubrick

Meu diretor de cinema favorito é Stanley Kubrick. Enquanto muitos diretores são chamados de profissionais da indústria do cinema, Kubrick era um artista. Ele conseguiu criar um repertório de filmes clássicos em diferentes gêneros: Épico (Spartacus), Ficção Científica (2001: Uma Odisseia no Espaço), Distopia (Laranja Mecânica), Filme de Época (Barry Lyndon), Drama (Lolita, De Olhos Bem Fechados), Guerra (Glória Feita de Sangue, Nascido para Matar), Comédia (Doutor Fantástico) e Terror (O Iluminado).

Stanley Kubrick

Kubrick é o exemplo perfeito sobre como um profissional pode incorporar tecnologia nos seus projetos:

A Simulação do Espaço em 2001

Kubrick revolucionou o uso de efeitos especiais em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Sem computadores gráficos disponíveis, ele criou imagens de tirar o fôlego utilizando modelos em miniatura e técnicas de fotografia pioneiras, como o processo de front projection. Este método foi usado para criar cenários detalhados em alta definição para a superfície da Lua, gerando uma imersão que parecia décadas à frente de sua época.

O impacto não estava apenas na fidelidade visual, mas na maneira como Kubrick conseguiu transmitir a vastidão do espaço e a insignificância humana diante do cosmos.

Cena de 2001: Uma Odisseia no Espaço

A Criação de Mundos em Laranja Mecânica

Em Laranja Mecânica (1971), Kubrick usou técnicas de edição para criar um mundo distópico chocante e visualmente marcante. Ele experimentou com velocidades de reprodução, cortes abruptos e composições visuais únicas para a época, trazendo uma estética que era ao mesmo tempo familiar e perturbadora.

A combinação da tecnologia da época com sua visão artística destacou como ferramentas podem ser usadas para desconstruir e reconstruir a realidade, revelando as camadas mais profundas da condição humana.

Câmeras e Perspectivas em Barry Lyndon

Em Barry Lyndon (1975), Kubrick enfrentou o desafio de capturar cenas inteiras iluminadas apenas pela luz de velas, algo impossível com as câmeras convencionais da época. Ele utilizou uma lente especial criada pela empresa Carl Zeiss para a NASA. Essas lentes, de abertura extremamente ampla, foram adaptadas para câmeras cinematográficas. Isso permitiu que Kubrick capturasse a delicadeza e a textura de uma iluminação natural inédita no cinema.

Este esforço técnico resultou em imagens que transportam o espectador ao século XVIII. O uso da lente não era apenas técnico, mas artístico, traduzindo visualmente a atmosfera e o tom emocional do filme.

Cena de Barry Lyndon

A Steadicam em O Iluminado

Em O Iluminado (1980), Kubrick foi um dos primeiros diretores a explorar todo o potencial da Steadicam, uma tecnologia recém-desenvolvida que permitia movimentos de câmera suaves, mesmo em terrenos irregulares. O resultado? Cenas icônicas como a perseguição de Danny no triciclo pelos corredores do hotel.

O uso inovador da Steadicam aumentou a tensão claustrofóbica e o suspense do filme, criando um impacto emocional na audiência.

Note que Kubrick não apenas utilizou a tecnologia; ele a reinventou como uma extensão narrativa. O movimento fluido da câmera não era um truque, mas uma ferramenta para intensificar o envolvimento do espectador na experiência emocional da história.

Uso de Steadycam em O Iluminado

Curiosamente, Kubrick faleceu quando estava desenvolvendo um filme sobre… Inteligência Artificial.

O Futuro é dos Artistas

Os modelos de Inteligência Artificial vão fazer do mundo um lugar mais automatizado. Código, mensagens, contratos, análises e diferentes trabalhos considerados de alto valor agregado serão automatizados por máquinas. Neste admirável mundo novo, a criatividade será o verdadeiro diferencial, tanto para indivíduos quanto para organizações.

Teremos que ser especialistas naquilo que a máquina não consegue fazer: imaginar, criar e inovar.

Dado que estamos entrando num novo ano novo, fica o convite para todos pensarem no que podemos criar de inovador e artístico nas nossas realidades.

Imagem criada por IA baseado no prompt: “Crie uma cena de um robo com produzindo uma obra de arte. O estilo em que você deve criar essa imagem é como se fosse algo criado por Stanley Kubrick. De um toque especifico de Laranja Mecanica e misture com 2001 uma odisseia no Espaço”

Grande abraço,

Edu

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