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Arte, Inteligência Artificial e Stanley Kubrick
Como a Arte é criada na Fronteira
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Oi, pessoal! Feliz ano novo e para começar 2025, eu quero trazer uma reflexão sobre arte e tecnologia.
Abaixo o resumo de um minuto:
IA não é um artista, mas sim uma ferramenta. É mais parecida com uma câmera ou um pincel do que com Van Gogh ou Mozart
A IA é otimizada para entregar uma resposta mediana. Os modelos são projetados para lhe dar “o que você esperaria” A arte é o oposto do mediano ou previsível
Ela é uma excelente ferramenta para acelerar processos criativos, mas não como substituta da visão única do artista ou inovador
Stanley Kubrick é um exemplo sobre como utilizar novas ferramentas no desenvolvimento de arte
O que é Arte?
A arte é a materialização do inesperado. Ela nasce onde a repetição cessa e a originalidade floresce. É onde o comum se transforma em extraordinário e o previsível cede espaço ao mistério.
Arte não é apenas técnica ou habilidade; é a expressão da humanidade, carregando nosso olhar único, emoções e intenções. A verdadeira arte está fora da “curva de distribuição” do que já foi feito. O artista é aquele que trabalha na fronteira, tateando o novo.
Como uma pessoa que cria conteúdo, investe em empresas de tecnologia e tem como principal hobby consumir arte, penso muito sobre “Arte e Inteligência Artificial”.
Eu acredito que as promessas exageradas e utópicas sobre IA fazem mais mal do que bem. Um dos erros que mais vejo é a propagação que “Inteligência Artificial pode fazer Arte”.
Na verdade, IA não é um artista, mas sim uma ferramenta. É mais parecida com uma câmera ou um pincel do que com Van Gogh ou Mozart.
IA e a busca pelo mediano
Os modelos de IA que mais utilizamos atualmente são os LLMs (ex: ChatGPT). Estes são alimentados com enormes volumes de dados que representam uma ampla variedade de textos, imagens e informações coletadas. A maioria desses dados é composta por elementos comuns, compartilhados e amplamente reconhecidos na sociedade. Quando colocamos todos eles juntos, os dados formam uma “distribuição” de conhecimento e padrões.
Curva Normal
O objetivo da Inteligência Artificial é prever padrões e gerar respostas que atendam às expectativas do maior número possível de usuários. Essa é uma forma elaborada de dizer que a IA está simplesmente tentando adivinhar qual é a palavra ou imagem mais provável de satisfazer o usuário.
Quando pedimos uma imagem, texto ou outro tipo de conteúdo, a IA analisa probabilidades com base nos dados de treinamento para fornecer uma resposta que esteja no centro dessa distribuição.
Em resumo, a IA é otimizada para entregar uma resposta mediana. Esses modelos são projetados para lhe dar “o que você esperaria.” Agora, vamos refletir: Arte é a busca pelo mediano e pelo esperado?
A mediana é algo familiar. Ela minimiza a quantidade de pessoas que acham que algo está “errado” ou “estranho”. A IA é limitada porque é treinada em dados históricos, que representam tendências, opiniões e padrões já existentes. Ela é criada para refletir sobre o que já foi feito, e não sobre o que é inovador ou fora da norma.
Ela busca gerar conteúdos que são “bons o suficiente”, mas raramente excepcionais ou revolucionários. Peça o desenho de uma casa e ela criará uma representação que combina os atributos mais comuns de casas presentes nos dados de treinamento. Ela não inventará uma casa fantástica; isso, mora apenas nas mentes dos grandes arquitetos.
Desenho que a IA fez a partir do prompt “Me desenhe uma casa normal”
A IA acelera o processo criativo
É preciso da intervenção humana para que a IA crie uma casa fantástica. Somos nós que temos o olhar que desafia padrões, o toque que transcende o esperado. O prompt humano força o modelo a explorar os limites da criatividade programada da máquina. O potencial de uma ferramenta para criar arte depende de seu usuário.
IA é uma excelente ferramenta para acelerar processos criativos, mas não como substituta da visão do artista. Apenas o ser humano possui engenhosidade.
Casa que a IA desenhou depois de algumas interações baseado no prompt inicial “Casa do Woody & Buzz, com perfil futurista, rústico…”
Voltando à pergunta: o que é Arte?
Arte é o que está na fronteira, fora da distribuição do que já foi feito. Inspirando-me na Bíblia, a Arte é “o quente ou o frio; se for morno, nós a vomitamos”.
E é aqui que se encaixa o Stanley Kubrick. Ele foi um artista que durante sua carreira abraçou as novas tecnologias e as incorporou nos seus filmes. Ele elevou a fronteira do possível utilizando as ferramentas de vanguarda. Ele é um exemplo para qualquer pessoa que se pergunta “o que fazer com a IA?”.
Artistas e Novas Tecnologias: Stanley Kubrick
Meu diretor de cinema favorito é Stanley Kubrick. Enquanto muitos diretores são chamados de profissionais da indústria do cinema, Kubrick era um artista. Ele conseguiu criar um repertório de filmes clássicos em diferentes gêneros: Épico (Spartacus), Ficção Científica (2001: Uma Odisseia no Espaço), Distopia (Laranja Mecânica), Filme de Época (Barry Lyndon), Drama (Lolita, De Olhos Bem Fechados), Guerra (Glória Feita de Sangue, Nascido para Matar), Comédia (Doutor Fantástico) e Terror (O Iluminado).
Stanley Kubrick
Kubrick é o exemplo perfeito sobre como um profissional pode incorporar tecnologia nos seus projetos:
A Simulação do Espaço em 2001
Kubrick revolucionou o uso de efeitos especiais em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Sem computadores gráficos disponíveis, ele criou imagens de tirar o fôlego utilizando modelos em miniatura e técnicas de fotografia pioneiras, como o processo de front projection. Este método foi usado para criar cenários detalhados em alta definição para a superfície da Lua, gerando uma imersão que parecia décadas à frente de sua época.
O impacto não estava apenas na fidelidade visual, mas na maneira como Kubrick conseguiu transmitir a vastidão do espaço e a insignificância humana diante do cosmos.
Cena de 2001: Uma Odisseia no Espaço
A Criação de Mundos em Laranja Mecânica
Em Laranja Mecânica (1971), Kubrick usou técnicas de edição para criar um mundo distópico chocante e visualmente marcante. Ele experimentou com velocidades de reprodução, cortes abruptos e composições visuais únicas para a época, trazendo uma estética que era ao mesmo tempo familiar e perturbadora.
A combinação da tecnologia da época com sua visão artística destacou como ferramentas podem ser usadas para desconstruir e reconstruir a realidade, revelando as camadas mais profundas da condição humana.
Câmeras e Perspectivas em Barry Lyndon
Em Barry Lyndon (1975), Kubrick enfrentou o desafio de capturar cenas inteiras iluminadas apenas pela luz de velas, algo impossível com as câmeras convencionais da época. Ele utilizou uma lente especial criada pela empresa Carl Zeiss para a NASA. Essas lentes, de abertura extremamente ampla, foram adaptadas para câmeras cinematográficas. Isso permitiu que Kubrick capturasse a delicadeza e a textura de uma iluminação natural inédita no cinema.
Este esforço técnico resultou em imagens que transportam o espectador ao século XVIII. O uso da lente não era apenas técnico, mas artístico, traduzindo visualmente a atmosfera e o tom emocional do filme.
Cena de Barry Lyndon
A Steadicam em O Iluminado
Em O Iluminado (1980), Kubrick foi um dos primeiros diretores a explorar todo o potencial da Steadicam, uma tecnologia recém-desenvolvida que permitia movimentos de câmera suaves, mesmo em terrenos irregulares. O resultado? Cenas icônicas como a perseguição de Danny no triciclo pelos corredores do hotel.
O uso inovador da Steadicam aumentou a tensão claustrofóbica e o suspense do filme, criando um impacto emocional na audiência.
Note que Kubrick não apenas utilizou a tecnologia; ele a reinventou como uma extensão narrativa. O movimento fluido da câmera não era um truque, mas uma ferramenta para intensificar o envolvimento do espectador na experiência emocional da história.
Uso de Steadycam em O Iluminado
Curiosamente, Kubrick faleceu quando estava desenvolvendo um filme sobre… Inteligência Artificial.
O Futuro é dos Artistas
Os modelos de Inteligência Artificial vão fazer do mundo um lugar mais automatizado. Código, mensagens, contratos, análises e diferentes trabalhos considerados de alto valor agregado serão automatizados por máquinas. Neste admirável mundo novo, a criatividade será o verdadeiro diferencial, tanto para indivíduos quanto para organizações.
Teremos que ser especialistas naquilo que a máquina não consegue fazer: imaginar, criar e inovar.
Dado que estamos entrando num novo ano novo, fica o convite para todos pensarem no que podemos criar de inovador e artístico nas nossas realidades.
Imagem criada por IA baseado no prompt: “Crie uma cena de um robo com produzindo uma obra de arte. O estilo em que você deve criar essa imagem é como se fosse algo criado por Stanley Kubrick. De um toque especifico de Laranja Mecanica e misture com 2001 uma odisseia no Espaço”
Grande abraço,
Edu
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