As 5 Mulheres mais poderosas da Tecnologia

E o que podemos aprender com elas

Por razões extraordinárias, essa hoje não teremos a versão em Áudio.

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Oi, pessoal! O artigo de hoje foi um pedido de uma leitora. É fato que o foco do setor de tecnologia é concentrado em poucos líderes, majoritariamente homens. No entanto, existem mulheres em algumas das posições mais poderosas da indústria.

Elas não são coadjuvantes e moldam ativamente as empresas mais influentes do planeta. São estrategistas, visionárias e executoras. Vou analisar a trajetória e o impacto de cinco dessas mulheres.

Se tiver apenas um minuto:

  • Lisa Su reverteu a crise da AMD, com apenas 20 dias de caixa, focando na arquitetura Zen e em mercados estratégicos, resultando em valorização superior a 50x.

  • Fidji Simo (OpenAI) lidera a monetização da IA, cotada para CEO, enquanto Fei-Fei Li (World Labs, US$230M) expande a IA para interações no mundo 3D.

  • Safra Catz (Oracle) comandou mais de 100 aquisições (+US$100Bi).

  • Fei-Fei Li é uma das pioneiras da pesquisa de IA, respeitada no mundo inteiro e atualmente esta trabalhando em IA para ambientes físicos, uma fronteira mais desafiadora que os LLMs. Além disso é fundadora de uma empresa avaliada em US$3Bi.

  • Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, é a executiva que transforma as visões de Elon Musk em realidade. Sua capacidade de convencer o governo dos EUA a contratar a SpaceX foi crucial para o sucesso da empresa.

  • Mulheres CFOs em gigantes como OpenAI, Microsoft, Alphabet, Nvidia, Meta e Salesforce gerenciam finanças bilionárias, aquisições estratégicas e grandes rodadas de investimento no setor de tecnologia.

Lisa Su (AMD): A Arquiteta da Reviravolta no Silício

Lisa Su

Lisa Su assumiu como CEO da Advanced Micro Devices (AMD) em outubro de 2014. Decisões erradas sobre arquiteturas de processadores, como a Bulldozer, e uma estratégia de produtos indecisa resultaram em perda de mercado para a Intel. A AMD perdeu relevância em PCs e servidores. A situação financeira era crítica. Quando ela assumiu o cargo, a AMD tinha caixa para operar por apenas 20 dias. A empresa perdia dinheiro operacionalmente e tinha uma dívida de US$2.2Bi. A falência parecia o cenário mais provável.

O turnaround liderado por Su é um dos mais impressionantes da história da tecnologia. Quando assumiu, uma ação da AMD estava entre US$ 2-US$3. Durante sua gestão, esse preço chegou a picos acima de US$200. Atualmente, está em US$ 112, uma valorização de mais de 50x em 10 anos.

Nascida em Taiwan e com Ph.D. em engenharia elétrica pelo MIT, Su implementou uma estratégia disciplinada:

  1. Foco Total na Arquitetura Zen: Su reorientou o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Cancelou projetos de menor impacto. Concentrou recursos no desenvolvimento da microarquitetura "Zen". A decisão era arriscada e exigiu anos de desenvolvimento antes de gerar retorno. Contudo, era essencial para restabelecer a competitividade em performance.

  2. Entrada Estratégica em Mercados-Chave: Com a Zen, Su lançou as CPUs Ryzen para desktops. Estas CPUs desafiaram o domínio da Intel em performance e preço, revitalizando a competição no mercado de PCs. Em seguida, a AMD introduziu os processadores EPYC para servidores, visando o lucrativo mercado de data centers. Su participou pessoalmente do convencimento de grandes clientes de nuvem e fabricantes sobre a nova plataforma.

  3. Consolidação em Gráficos e Consoles: Enquanto reerguia a divisão de CPUs, Su manteve o foco na unidade de GPUs Radeon. Garantiu contratos para fornecer chips customizados para os consoles PlayStation da Sony e Xbox da Microsoft. Isso assegurou receita estável e volume de produção.

  4. Parcerias Estratégicas e Produção: Su reconheceu a importância da fabricação avançada. Estreitou relações com a TSMC. Garantiu acesso aos processos de produção mais modernos, uma vantagem competitiva importante, especialmente quando a Intel enfrentou dificuldades de produção. Su une visão estratégica, conhecimento tecnológico e capacidade de execução. Ela transformou a AMD em uma empresa inovadora e relevante.

Fidji Simo (OpenAI): A Próxima CEO?

Fidji Simo

A história de Fidji Simo é inspiradora. Nascida numa pequena cidade no sul da França, foi a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino médio. Depois, se formou na HEC Paris. Ela começou sua carreira no eBay, mas ganhou destaque no Facebook, onde entrou como product manager e chegou a liderar o aplicativo principal da empresa. Durante sua gestão, foi responsável por produtos-chave como Facebook Live, Stories e os anúncios no Feed, coordenando times com mais de 6 mil pessoas.

Em 2021, Simo assumiu como CEO da Instacart. Ela conduziu a empresa a um IPO de US$ 10 bilhões em 2023. No entanto, seu maior passo veio algumas semanas atrás. Simo foi contratada pela OpenAI em 2024 como Chefe de Aplicações (como o ChatGPT), no que sinaliza uma nova fase para a organização. Ao trazê-la, a OpenAI traça um caminho mais claro de monetização. Simo também se coloca na dianteira para ser a CEO daquela que é provavelmente a empresa mais importante desta década.

Seu desafio é converter a liderança tecnológica da OpenAI em produtos amplamente adotados e rentáveis, além de criar um ecossistema sustentável. A experiência de Simo em escalar produtos para bilhões de usuários e construir modelos de negócios para novas tecnologias é ideal para a empresa.

Fei-Fei Li (World Labs): A Visionária da IA Humanizada

Fei-Fei Li

Nascida em Pequim e radicada nos EUA desde os 16 anos, a Dra. Fei-Fei Li é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento da Inteligência Artificial moderna. Seu marco mais conhecido é o ImageNet, banco de dados que revolucionou a visão computacional. Com mais de 14 milhões de imagens classificadas, o projeto criou a base para o treinamento de redes neurais profundas e foi catalisador da chamada “deep learning revolution”.

Com Ph.D. pela Caltech e passagens por Princeton, Stanford e Google Cloud, sua carreira combina excelência técnica com um olhar ético e inclusivo. Em 2019, Li fundou o Stanford Human-Centered AI Institute (HAI). Esse centro tem como missão principal promover o desenvolvimento e a aplicação da inteligência artificial de forma ética, inclusiva e centrada no ser humano.

Em 2024, fundou a World Labs, startup que arrecadou US$230 milhões para desenvolver Large World Models — sistemas de IA capazes de interagir com o mundo 3D. O objetivo: levar a IA para além da linguagem e expandi-la para robótica, realidade aumentada e simulações imersivas.

Safra Catz (Oracle): A Mestra do M&A

Safra Catz

A israelense Safra Catz, CEO da Oracle, é conhecida pela disciplina financeira e execução eficaz. Desde que ingressou na empresa em 1999, e ao longo de suas posições de liderança sênior (Presidente, CFO, co-CEO e CEO), Catz tem sido uma figura central na evolução da Oracle. Ela também comanda a estratégia agressiva e bem-sucedida de fusões e aquisições da empresa.

Sob sua influência nas últimas duas décadas, a Oracle realizou mais de uma centena de aquisições. Essas transações ultrapassam US$ 100 bilhões em valor total. A estratégia de M&A é um pilar do crescimento da Oracle. Permite à empresa expandir seu portfólio de nuvem, entrar em novos mercados verticais e adquirir tecnologia e clientes.

Algumas das transações mais importantes incluem PeopleSoft (US$ 10,3Bi), BEA Systems (US$ 8,5Bi), Sun Microsystems (US$ 7,4Bi), NetSuite (US$ 9,3Bi) e Cerner (US$ 28,3Bi). Esta última posicionou a Oracle como uma força no setor de tecnologia para saúde. Catz identifica alvos, conduz negociações e supervisiona a integração das empresas adquiridas, impulsionando o crescimento e a lucratividade da Oracle.

Ela ensina uma das aulas mais disputadas do MBA de Stanford, que tive a chance de fazer. O tema? M&A.

Gwynne Shotwell (SpaceX): A Engenheira de Negócios do Espaço

Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, é a executiva que transforma as visões de Elon Musk em realidade. Sua capacidade de convencer o governo dos EUA a contratar a SpaceX foi crucial para o sucesso da empresa. O governo americano tradicionalmente prefere fornecedores aeroespaciais estabelecidos e opera com certa aversão a riscos. No início dos anos 2000, poucos acreditavam que uma empresa privada pudesse lançar cargas e astronautas para a NASA. Shotwell, engenheira com visão de negócios, liderou o esforço para mudar essa percepção. Sua estratégia incluiu:

  1. Demonstração de Capacidade Técnica e Inovação: A SpaceX, com a engenharia de Musk e a gestão operacional de Shotwell, entregou avanços tecnológicos como os foguetes Falcon 1 e Falcon 9. O foco em confiabilidade e na reutilização de foguetes reduziu drasticamente os custos.

  2. Construção Gradual de Credibilidade: Shotwell cultivou o relacionamento com a NASA e o Departamento de Defesa (DoD). Começando com contratos menores e missões de demonstração (programa COTS), a SpaceX provou sua capacidade de cumprir cronogramas e requisitos técnicos. Cada lançamento bem-sucedido aumentava a confiança.

  3. Articulação de Proposta de Valor: Shotwell demonstrou aos tomadores de decisão que a SpaceX oferecia não apenas custos menores, mas também promovia inovação e competição. Isso garantia o acesso independente dos EUA ao espaço, um fator de segurança nacional e liderança tecnológica. A persistência e a habilidade de negociação de Shotwell foram instrumentais para assegurar os contratos bilionários do Commercial Crew Program. Este programa restaurou a capacidade americana de lançar seus próprios astronautas.

Bônus: As Guardiãs Financeiras da Tecnologia

Se existe uma área em que mulheres estão começando a conquistar espaço de forma mais igualitária com homens, no mundo da tecnologia, é em finanças.

No alto escalão das grandes empresas de tecnologia, um número crescente de mulheres ocupa o cargo de CFO. Seguem algumas delas:

Sarah Friar

  • Sarah Friar (OpenAI): Além de ter sido CEO da empresa listada Nextdoor, Friar foi CFO da Square, levando a empresa de uma startup com potencial a uma companhia listada avaliada em dezenas de bilhões de dólares. Recém-chegada à OpenAI, ela liderou o processo de captação da maior rodada de investimento privado da história: US$ 40Bi, avaliando a OpenAI em US$ 300Bi.

  • Amy Hood (Microsoft): Braço direito de Satya Nadella, ela vem, desde 2013, ajudando a Microsoft a realizar os investimentos bilionários em nuvem (Azure) e IA.

  • Ruth Porat (Alphabet): Atual presidente e CIO da Alphabet, Porat é uma lenda no Vale do Silício. foi considerada por vários anos como a melhor CFO do setor de tecnologia. Sua gestão foi crucial para o crescimento da Alphabet. Quando deixou o cargo, sua sucessora também foi uma mulher.

  • Anat Ashkenazi (Alphabet): Assumiu em 2024, vinda da Eli Lilly. Atualmente, ela tem uma tarefa parecida com a de Amy Hood. A Alphabet vem investindo pesadamente em nuvem e IA. Foi sob sua gestão que a empresa fez sua maior aquisição, comprando a Wiz por US$ 32Bi.

  • Colette Kress (Nvidia): CFO da Nvidia desde 2013, Kress está no centro da expansão da IA, gerencia o crescimento da Nvidia e sua entrada em novos mercados.

  • Susan Li (Meta): CFO desde 2022, ela é peça fundamental da gestão da companhia, especialmente com um CEO que toma decisões de bilhões de dólares de forma rápida. Ela foi uma das líderes do projeto de corte de custos da companhia, aumento do investimento em IA e diminuição dos gastos no metaverso.

  • Amy Weaver (Salesforce): Uma das principais arquitetas da estratégia da Salesforce que combina crescimento orgânico e aquisições.

O setor de tecnologia continua dominado por homens, mas, se este artigo puder inspirar algumas pessoas a acreditar que é possível chegar ao topo, já valeu a pena.

Grande abraço,

Edu

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