Ethereum Rio 2022

Opiniões sobre Crypto no Brasil

Oi, pessoal! Semana passada fiquei sem publicar, pois, estava na conferência da Ethereum no Rio de Janeiro. Para compensar, essa semana teremos dois artigos.

Muito obrigado!

Edu

Ethereum Rio 2022

Resumo: A Ethereum Rio 2022 mostrou aos seus participantes um ecossistema vibrante e apaixonado. A falta de “turistas” de outras indústrias prova o quanto crypto ainda tem a andar no Brasil até a adoção em massa tanto por indivíduos quanto empresas. Estamos observando o início de uma disputa entre as corretoras pelo mercado local, em que empresas altamente capitalizadas vão brigar pelo investidor brasileiro.

Conferências fazem parte da cultura crypto. Devido a natureza decentralizada da tecnologia, somado ao valor financeiro criado nos últimos anos, o hábito de se encontrar pessoalmente num lugar diferente e de celebração tem apelo.

A Ethereum Rio aconteceu do dia 11 ao dia 20 de março no Museu do Amanhã e na Fábrica de Startups. Faz algum tempo que a Cidade Maravilhosa vem se posicionando como um hub para a indústria blockchain. O prefeito Eduardo Paes já declarou que quer lançar um token da cidade e investir parte do caixa em bitcoin. É um movimento semelhante ao que a cidade de Miami fez. Atualmente ela sedia a Bitcoin Miami, um dos mais importantes eventos deste tipo e o prefeito tem tomado uma série de medidas para atrair a indústria de tecnologia para a cidade americana favorita dos brasileiros.

O Evento

A conferência foi composta de três sub-eventos: (i) Bootcamp & Launchpad, em que empreendedores e investidores se apresentavam uns aos outros. Neste evento fui um dos palestrantes. (ii) Evento Principal & Workshops, com palestras de diferentes temas e apresentações de empresas e protocolos. (iii) Hackathon, onde desenvolvedores trabalharam na solução de um desafio. Pude me encontrar com empresas e protocolos como a Binance, Hashdex, Bitso, Parfin, BAYZ, Lemon Cash, Valora, Celo, Bitfy, Cartesi.io, Transfero Group, Hathor, Balancer, Traive Finance, Blockforce, Three Arrows Capital, MakerDAO, Metamask e Amber Group. Além disso, tivemos as tradicionais festas e eventos paralelos. No último dia fomos surpreendidos pela aparição de CZ, o fundador da Binance e considerado por alguns como o homem mais rico do mundo.

Estes dias imerso no universo crypto me fizeram formar algumas visões sobre o estado da indústria no Brasil. Gostaria de compartilhar com vocês:

1) Guerra das Corretoras: o primeiro negócio de blockchain, as corretoras permitem a compra e venda de tokens, oferecendo o serviço de custodia, diferente da auto custódia, que é quando o próprio investidor mantem as suas chaves crypto. Apesar de serem chamadas de corretoras, funcionam mais como bolsas, dado que possuem o próprio order book.

Coinbase, maior corretora crypto, com ações listadas na Nasdaq anunciou planos de abertura de um escritório local. A Gemini, outra relevante corretora que levantou uma rodada de investimentos no final do ano passado de $400 milhoes e foi avaliada em $7.1 bilhões, também está montando suas operações locais. A Bitso, maior corretora da América Latina, originalmente do Mexico e que levantou uma rodada de $250 milhões no início do ano passado, já está com mais de 100 pessoas trabalhando no Brasil. O Mercado Bitcoin recebeu um aporte de $200 milhões no meio do ano passado. Além disso, a Binance continua líder no mercado local e anunciou grandes planos. Inicia-se agora uma guerra pelo cliente brasileiro. Podemos esperar agressivos gastos em marketing, potenciais aquisições e fusões. Quem ganha com isso é o investidor local. Perde as empresas que gastarem o dinheiro e não ganharem market share.

2) A Binance quer o Brasil: a visita de seu fundador foi simbólica dos planos da empresa para o mercado. Esta é uma das empresas mais fascinantes dos últimos 20 anos e merece um texto próprio, mas para darmos uma noção de sua escala, vamos fazer uma simples regra de três: nas últimas 24 horas a Coinbase, que possui valor de mercado de ~$40 bilhões, transacionou ~$2,5 bilhões de dólares. No mesmo período, a Binance transacionou ~15 bilhões. Isso daria a Binance um valor de mercado 6x maior, de $240 bilhões de dólares, o que faria dela a terceira maior instituição financeira do mundo. Podemos considerar que os problemas jurídicos da empresa implicam um desconto, mas também podemos argumentar que num mercado em que liquidez é o nome do jogo, a empresa líder com 20% de market share global, que atua em quase todos os países e possui mais serviços, deveria ter um prêmio. Enfim, vocês entenderam o tamanho da empresa.

CZ se reuniu com políticos como João Doria e Eduardo Paes, agencias reguladoras, empresários e membros da comunidade crypto brasileira. Os planos da empresa são ambiciosos e incluem a compra e investimento em empresas de serviços financeiros tradicionais como bancos e IPs, aumentar o quadro no Brasil, hoje em 100 pessoas, para mais de 500 e atuar de forma mais presente no ecossistema local. A capacidade de execução e agressividade da empresa não devem ser menosprezadas e fico curioso para ver o que farão no curto prazo.

3) E Aí, Faria Limers, Cadê Vocês? Apesar de ser um dos setores que mais atraiu investimentos no último ano, a presença de empresas como bancos, fundos de investimentos e corretoras tradicionais foi tímida, para não dizer nula. Até mesmos os investidores de venture capital eram poucos. De forma geral, crypto no Brasil ainda é uma indústria auto-centrada e com pouca interação com outras e a Ethereum Rio não foi diferente.

4) DeFi chega ao Brasil: a Lemon Cash, uma empresa de serviços financeiros em crypto anunciou a sua chegada no Brasil, dando início a oferta de Decentralized Finance no Brasil. A Lemon possui dentre outros produtos uma conta em dólar digital que oferece rendimentos em dólar de 5-7% ao ano, com liquidez diária. O surgimento de produtos de DeFi com rendimentos superiores aos tradicionais vai forçar o regulador a começar a pensar sobre como lidar com esta alternativa. De todos, acredito que o Banco Central é o órgão mais conhecedor de crypto dentro do governo brasileiro.

5) Muito foco em trading e “ganhar dinheiro”: um lado decepcionante do ecossistema brasileiro até agora é a alta quantidade de empresas focadas em dar acesso a crypto e a baixa quantidade que busca usar blockchain para resolver problemas do “mundo real”. Vejo isso mais como uma questão do amadurecimento do ecossistema, mas hoje “é o que é”.

Apesar deste último ponto, de forma geral fiquei orgulhoso com o desenvolvimento do ecossistema local e animado para continuar a ajudar a construir esta indústria no Brasil.

Disclaimer: sou investidor da Lemon Cash, Hashdex (ambas na qual sirvo no conselho), Bitso BAYZ, Valora, Celo e é claro, Ethereum.