Por que Inteligência Artificial é uma oportunidade gigante?

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Olá, pessoal! Hoje iniciamos uma trilogia de artigos sobre Inteligência Artificial.

  • Por que Inteligência Artificial é uma oportunidade gigante? análise de hoje

  • Quando a Bolha de IA vai estourar? Análise da semana que vem

  • Como os principais fundos de Tecnologia estão investindo em Inteligência Artificial? conteúdo exclusivo para os participantes do programa de referral do bsb, mais informações em breve

Se tiver apenas um minuto, segue o resumo:

  • A premissa econômica de IA é que esta é a primeira tecnologia que pode absorver uma fatia considerável do setor de serviços. Dado que esse é um mercado potencial de trilhões de dólares, assim também é a oportunidade.

  • A Inteligência Artificial é uma revolução de produtividade. As empresas desta nova onda ainda não foram criadas.

  • A indústria de IA fez US$3bi em receita no seu primeiro ano de operações. Em comparação, demorou 10 anos para as empresas de SaaS somadas, chegarem no mesmo montante.

  • Com um investimento anual de US$300bi em infraestrutura, mas apenas US$3bi em receitas, atualmente a conta da indústria não fecha. Empresas de data centers estão apostando na expectativa que os produtos de IA gerem receitas na casa das centenas de bilhões.

  • O iPhone foi lançado em 2007, mas empresas como Uber e Airbnb, vencedoras da plataforma de mobile, nasceram apenas anos depois. O mesmo pode acontecer em IA.

Qual a oportunidade?

20 meses atrás apareceu um fenômeno chamado ChatGPT, trazendo consigo capacidades surpreendentes e inaugurando um novo ciclo de hype no mundo de tecnologia. Este ciclo, como vários outros na história, é caracterizado por expectativas infladas, seguidas por desilusões e, novamente, por renovadas excitações.

Fonte: Gartner

A Inteligência Artificial introduziu três novas habilidades aos computadores:

  1. Criatividade: Com a IA, é possível gerar textos, áudios, imagens e vídeos — algo completamente fora do alcance do software tradicional.

  2. Raciocínio: a IA tem a capacidade de analisar informações complexas e formular conclusões, replicando um tipo de "pensamento" que antes era exclusivo aos humanos. Isso transforma radicalmente a maneira como os dados são interpretados e utilizados.

  3. Interação: a capacidade da IA de criar e raciocinar nos permite cobrir aspectos tanto do hemisfério direito quanto do esquerdo do cérebro humano, permitindo que, pela primeira vez, um software interaja de maneira similar aos seres humanos. Essa habilidade tem implicações profundas nos modelos de negócio e na interação humana.

Criação, Raciocínio e Interação - imagens criadas pela DALL-E da OpenAI

Mas por que isso é especial?

Uma comparação útil para a Inteligência Artificial é a adoção da tecnologia de Nuvem. Embora não seja uma analogia perfeita, ela é suficiente para esclarecer a análise atual.

Nos últimos 15 anos, observamos uma mudança estrutural significativa na forma como a tecnologia é consumida. Deixamos de comprar softwares para instalar em nossos computadores e passamos a usar serviços baseados na Nuvem, processados em data centers remotos. Isso não apenas reduziu os custos e democratizou o acesso às tecnologias, mas também possibilitou o surgimento de um novo modelo de negócio: o Software as a Service (SaaS). Esse modelo propiciou o nascimento de empresas bilionárias, transformando profundamente o mercado de software.

Para exemplificar, em 2010, o mercado de software era avaliado em US$350bi de dólares, dos quais apenas US$6bi eram atribuídos a softwares na Nuvem.

No último ano, o valor total do mercado de software alcançou US$600bi, sendo que US$400bi vieram da Nuvem. Seu crescimento anual foi de 40% por 15 anos.

Prosseguindo com a analogia. Software na Nuvem substituiu o software instalado nos computadores. IA tem o potencial de substituir não apenas software, mas também uma parcela do setor de serviços.

Considerando que o PIB global em 2023 foi de US$105tri e 65% deste valor foi gerado pelo setor de serviços, o mercado potencial para a IA é, indiscutivelmente, na casa dos trilhões.

Essa é a premissa que sustenta o otimismo da indústria tecnológica sobre IA. É por isso que tantas pessoas acreditam que esta pode ser a maior oportunidade de criação de valor que já vimos em nossas vidas.

Por que agora?

A criação de valor no campo da tecnologia geralmente acelera com o surgimento de novas plataformas computacionais. A história da computação é uma sequência de inovações que se sobrepõem e se potencializam mutuamente.

Inspirado por material da Sequoia Capital e a16z

Na década de 60, o advento dos chips semicondutores pavimentaram o caminho para sistemas mais avançados, como o computador pessoal.

Nos anos 80, esses sistemas começaram a ser interligados, formando redes. Na década de 90, essas redes culminaram na internet global. Avançando para os anos 2000, a internet facilitou o surgimento de aplicações mais sofisticadas, marcando o início da era da Nuvem. Finalmente, na década de 2010, essas aplicações encontraram um lugar constante em nossos bolsos por meio dos smartphones.

A lição desta trajetória é que cada nova plataforma foi construída sobre a anterior, agregando valor incremental. Consequentemente, as empresas de cada nova onda tecnológica tendem a ser maiores que as anteriores.

No contexto da Inteligência Artificial, a teoria das Redes Neurais, que são a base das IAs modernas, foi concebida na década de 1940. Contudo, somente agora, nos 2020s, reunimos os elementos essenciais para transformar essa visão em realidade:

  1. Dispomos de poder computacional em escala e a custo acessível

  2. As redes são rápidas, eficientes e confiáveis

  3. Cinco em cada sete bilhões de pessoas no mundo possuem um celular

  4. Em parte devido à pandemia de Covid-19, uma imensa quantidade de dados foi movida para a internet.

Estamos, portanto, no limiar de uma nova era, onde a IA pode ser a próxima grande plataforma tecnológica, provavelmente maior que as anteriores.

Cena do filme Inteligência Artificial de Steven Spielberg

Como IA se compara com outras tecnologias?

Há diversos tipos de revoluções tecnológicas. Por exemplo, telefones e a Internet revolucionaram a comunicação. Locomotivas, aviões e carros transformaram o transporte. A mecanização da agricultura foi uma revolução na produtividade.

A Inteligência Artificial é uma revolução de produtividade. Estas seguem o seguinte padrão: começa com um ser humano e uma ferramenta, evolui para um humano com uma máquina, e culmina em um humano controlando uma rede de máquinas.

Na agricultura, a enxada foi usada por milênios antes de ser substituída pelo trator no século XX. Atualmente, um único indivíduo controla uma frota de tratores.

Similarmente, no campo do software, passamos do uso de ferramentas básicas de cálculo, como o ábaco, para computadores individuais, e agora estamos avançando para uma rede de computadores interligados por IA. No futuro, não utilizaremos um único modelo de IA, mas sim múltiplos modelos que operam em colaboração ou competição.

Essa revolução vai resultar em uma redução de custos. Um exemplo contemporâneo desses ganhos de produtividade pode ser visto no gráfico de funcionários necessários para uma empresa do S&P 500 gerar US$1mi em receita. Existe uma tendência de declínio ao longo dos últimos 30 anos. As empresas estão gerando mais receita com menos funcionários.

Fonte: Bank of America

Apesar das preocupações com o desemprego, os dados não mostram um aumento correspondente, o que sugere que os ganhos de produtividade não têm levado a um desemprego massivo.

Fonte: Bureau of Labor Statistics

Além disso, esses avanços são deflacionários; setores que adotam mais tecnologia frequentemente reduzem os preços de seus produtos.

A IA tem um potencial particularmente alto nos setores de educação e saúde, que têm sofrido com alta inflação nos últimos anos.

Evolução de Preços nos Estados Unidos

Atualmente, enfrentamos duas principais pressões inflacionárias: o nearshoring, que favorece fazer negócios não apenas com os países mais baratos, mas com aqueles que são econômicos e aliados; e a transição para uma matriz energética mais limpa, mas mais cara. Nesse contexto, a IA pode atuar como um contrapeso.

Além disso, uma característica importante da IA é sua capacidade de melhoria contínua. Por exemplo, as iterações do ChatGPT de 1 a 4 mostraram avanços substanciais, ao contrário das mudanças marginais observadas das primeiras às mais recentes versões do iPhone.

Portanto, a IA não apenas se equipara a outras revoluções tecnológicas em impacto, mas tem potencial para superá-las.

O que vem acontecendo?

Abaixo, há uma lista das empresas mais bem-sucedidas do mundo em áreas como Nuvem e Smartphones, todas com receitas anuais acima de US$1 bilhão.

Se você notar que a coluna de IA está vazia, é justamente aí que reside a oportunidade: As empresas desta nova onda ainda não foram criadas! Em uma década, espera-se que esta coluna esteja repleta de logos.

Inspirado em material da Sequoia Capital

IA tem o potencial de impactar imediatamente diversas áreas, atuando como acompanhante, designer, escritor, assistente executivo, tutor, ajudante de programação, planejador, entre outros. Já existem casos práticos demonstrando seu potencial. Por exemplo, a Klarna, uma gigante dos pagamentos, está utilizando a tecnologia da OpenAI para automatizar tarefas que antes eram realizadas por 700 agentes de call center.

Tweet do fundador da Klarna sobre IA

No que tange à velocidade de adoção e crescimento, a IA tem mostrado resultados impressionantes. As empresas focadas exclusivamente em IA geraram, em conjunto, receitas de US$3bi em 2023, seu primeiro ano completo de operação.

Esse valor é significativo, especialmente se considerarmos que não inclui os aumentos de receitas de produtos e serviços de IA de gigantes tecnológicos como Microsoft e Google, mas sim apenas de startups "puro sangue" de IA.

Para efeito de comparação, as empresas de Nuvem levaram dez anos para atingir esse patamar de receita após o surgimento da tecnologia.

Onde os investidores estão apostando?

No início de uma nova plataforma computacional, é comum que os primeiros investimentos se concentrem na infraestrutura. Dos US$22bi investidos por Venture Capital em IA ano passado, 78% foram destinados a empresas de infraestrutura e modelos. Já a camada de aplicação, recebeu uma parcela menor dos investimentos, totalizando apenas US$1,2 bilhão.

O que as Big Techs acham de IA?

Se tem alguém mais animado que os investidores de Venture Capital com IA, são as Big Techs. Empresas como Microsoft, Google, Amazon e Meta estão investindo pesadamente em data centers para processar todos os cálculos necessários para criar e rodar modelos de IA.

Esse investimento acumulado deve bater em torno de US$300 bilhões de dólares até o final do ano. Isso se divide em torno de US$150 bilhões em chips da Nvidia, demanda essa que fez da empresa uma das três maiores do mundo. O restante é referente a custo de energia, prédios, geradores e etc.  

Interior de um Data Center

Cadê os clientes?

É aqui que a conta não fecha, pelo menos atualmente. Nós temos US$300 bilhões investidos em data centers para IAs. No entanto, mencionei acima que as empresas de IA, que são as principais clientes desses data centers, faturaram apenas US$3bi ano passado.

Se assumirmos que as empresas de IA tem margem bruta de 50% e que as empresas de data centers vendem seus serviços sem margem alguma (o que não é verdade), isso quer dizer que para remunerar todo esse capex de nuvem seria necessário que as empresas de IA faturassem pelo menos US$600 bilhões de dólares. Se você achou minha estimativa maluca, te digo que ela não é minha, mas da Sequoia Capital.

Isso quer dizer que empresas como a Microsoft estão investindo dezenas de bilhões na promessa que a demanda, que ainda não existe, virá.

É meio que igual aquele filme “Campo dos Sonhos”. Nele o personagem do Kevin Costner é assombrado por uma voz que diz que “Se você construir, ele virá”. Ele vai lá e constrói um campo de beisebol em sua fazenda, o que atraí o fantasma de seu pai, que era jogador de beisebol e que morreu brigado com o filho.

PS: Se você não viu esse filme, marque para assistir nesse final de semana. É um dos melhores que já vi. Eu não consigo assistir os 5 minutos finais sem chorar igual um bebê.

Voltando à IA. Historicamente, investimentos exagerados em infraestrutura de novas tecnologias foram um ótima forma de perder dinheiro, mas também contribuíram para reduzir o custo marginal de desenvolvimento de novos produtos. O mesmo pode ocorrer com a IA.

Aqui me lembro das palavras de um mentor: “se o pior cenário para IA for ser uma bolha igual a da Internet, isso não é necessariamente ruim. Lembra que poucos anos depois dela explodir, nós vimos nascer os Googles e Facebooks de IA, igual aconteceu com a Internet”.

Imagem aérea de um data center

Os Campeões Demoram a Chegar

O iPhone surgiu em 2007. Vocês lembram dos primeiros aplicativos? Eram coisas meio bobas, como um app que mostrava uma vela.

As grandes vencedoras da plataforma mobile foram empresas como Uber, Airbnb, Instagram, Meituan (empresa chinesa que inspirou o iFood e Rappi) e Bytedance (do TikTok). O que elas têm em comum? Todas foram fundadas anos depois do surgimento do iPhone. Instagram e Meituan começaram em 2010, o Uber em 2011, Bytedance em 2012 e o Airbnb começou em 2008, mas apenas engatou no modelo em 2010 com a adoção do aplicativo mobile.

Isso aconteceu porque demora alguns anos até que as pessoas entendam as possibilidades de uma nova plataforma.

É muito difícil entender novos hábitos até que eles sejam apresentados para nós.

Existem centenas de empresas focadas em aplicação de IA. Muitas delas não têm tecnologia proprietária ou barreira de entrada. Ideias são copiadas diariamente devido ao alto número de pessoas construindo com a tecnologia. Várias empresas tem soluções de co-piloto, ou seja, acelerando o trabalho das pessoas. Será que isso é o máximo que IA poderá fazer?

O capital está sendo investido para o desenvolvimento de infraestrutura e ferramentas, fundamentais para o nascimento de novos produtos. Uma quantidade crescente de talento vêm focando em IA. No entanto, fora de infraestrutura e modelos, as grandes empresas ainda não foram criadas.

Eu acredito que ainda não vimos nem perto do potencial de IA. Quando o virmos, será algo que parecerá óbvio, mas que ninguém havia pensado até então. Da mesma forma que pedir comida ou um carro por celular.

Grande abraço

Edu

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