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O Fim da Internet Como Conhecemos
Como a IA quebrou o pacto original da internet e o que vem a seguir

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Oi pessoal! Existe uma mudança do padrão de consumo de conteúdo online. Se antes buscávamos em redes sociais, agora cada vez mais as pessoas utilizam ferramentas de IA. Isso muda os incentivos econômicos dos negócios digitais e tem ramificações sociais e econômicas. Entenda melhor na análise abaixo:
Caso tenha apenas um minuto:
O pacto que sustentava a internet que conhecíamos quebrou. Por duas décadas, criadores e marcas publicavam conteúdo esperando, em troca, audiência e tráfego vindos de agregadores como Google, Facebook, YouTube e TikTok. Essa lógica — “atenção por conteúdo” — criou uma indústria trilionária.
IA virou a nova porta de entrada da informação e rompeu o ciclo. ChatGPT, resumos de IA no Google e afins entregam respostas prontas, sem redirecionar visitas às fontes. O criador torna-se matéria-prima, a IA o produto final. O resultado é a queda de visitantes aos sites. A Wikipedia viu uma queda de visitas de –22% nos últimos três anos.
Sem tráfego, o incentivo para criar cai — e o feed transborda conteúdos genéricos. A abundância de textos, imagens e vídeos comoditiza a autoria, gera “fadiga de conteúdo”.
Temos vencedores e perdedores. Perdem portais dependentes de SEO e criadores generalistas; ganham especialistas com comunidade própria, comunicação direta e plataformas que privilegiam curadoria e identidade.
O Pacto Original
Durante anos, a internet funcionou com base em um acordo não escrito:
Você compartilha conteúdo, e em troca, recebe atenção.
Chamamos isso de “o pacto da internet” — uma troca silenciosa entre quem cria e quem distribui. Criadores produziam vídeos, textos, tutoriais, fotos, memes. Em retorno, ganhavam audiência, reputação e, em muitos casos, uma fonte de renda.

Esse sistema não beneficiou apenas influenciadores. Marcas também entraram no jogo: criaram blogs, perfis em redes sociais, canais no YouTube, newsletters. Empresas como iFood, Nubank e XP entenderam que conteúdo era uma ponte para construir marca, autoridade e vendas.
Esse sistema só funcionava porque plataformas como Google, Facebook e Instagram operavam como agregadores eficientes. Eles organizavam o conteúdo, distribuíam atenção e, o mais importante, redirecionavam tráfego de volta ao criador.
O Google levava milhões de acessos para sites como Globo.com, Mercado Livre e UOL.
O Instagram impulsionava vozes como Gabriela Pugliesi e Nath Finanças.
O Youtube fez do Felipe Neto e Winderson Nunes personalidades nacionais.
Já no TikTok, um vídeo de 15 segundos podia transformar uma pessoa em celebridade.
Todo o ecossistema se movia em torno de uma moeda: atenção.
Não era um sistema perfeito. Mas funcionava. Incentivava a produção, fortalecia o vínculo entre criador e público — e fazia da internet um lugar vivo.
Até que a IA mudou tudo.
A Ascensão da IA
A partir de 2022, a IA deixou de ser uma ferramenta nos bastidores e se tornou a nova candidata à principal interface da Internet. E isso muda a forma como interagimos com informação e atenção.
Antes, quando alguém tinha uma dúvida, pesquisava no Google, lia vários sites, comparava pontos de vista. Agora, pergunta ao ChatGPT, Claude ou Perplexity — e recebe uma resposta direta, fluida, sem links e sem retorno para o criador original. Até mesmo o Google, com seus novos resumos por IA, enterra os resultados tradicionais abaixo da linha da dobra.
Esse novo comportamento muda a estrutura do pacto. A IA:
Reorganiza o conhecimento criado por terceiros;
Entrega a resposta final ao usuário;
Elimina a necessidade de visitar as fontes originais.

A IA virou um reintérprete do conteúdo alheio, oferecendo respostas sem tráfego, sem atribuição, sem contrapartida. O que era uma economia de distribuição virou uma economia de substituição.
O criador virou matéria-prima. A IA virou o produto final. O ciclo se rompeu. O valor deixou de circular.
A Economia da Extração
Isso não é apenas uma mudança técnica. Ao tornar-se o portão de entrada da Internet, a AI afeta uma cadeia econômica gigantesca construída ao redor da lógica antiga. Colocando em números:
O mercado global de marketing digital é trilionário.
Só o Google Search Ads faturou US$198Bi em 2024.
A Meta sozinha arrecadou US$160Bi e a Bytedance, dona do TikTok, faturou US$155Bi no mesmo período
No Brasil, existem mais de 25 mil agências de marketing digital, que empregam mais de 350 mil pessoas. Empresas de todos os tamanhos investem milhões todos os anos para atrair atenção dos consumidores via conteúdo, mais de R$35Bi só no ano passado.
O impacto da IA tem sido brutal:
De março/2022 até março/2025, o número de visitas mensais na Wikipedia caiu 22%.
No mesmo período o volume de visitas orgânicas da Hubspot, uma das melhores empresas de trafego orgânico, caiu 25%.
O site Globo.com também viu seu trafego cair 22% no mesmo espaço de tempo.

É como se a IA tivesse criado um atalho entre a pergunta e a resposta — e, no caminho, deletado todos os sinais de quem construiu o conhecimento original. Ela captura o valor no topo da cadeia, sem redistribuí-lo.
O Fim da Internet Como Conhecemos
A internet sempre foi um lugar de troca. Você criava um post esperando curtidas. Publicava uma receita esperando comentários. Escrevia um artigo esperando conversas. A criação vinha com uma expectativa de retorno — emocional, social ou financeiro. Se o tráfego desaparece, os incentivos para criar também somem.
Ao mesmo tempo, a IA torna o conteúdo infinito. Hoje, qualquer pessoa pode gerar milhares de conteúdos em segundos. São imagens, textos, roteiros e até vídeos criados com poucos comandos. O resultado?
Infinidade de textos parecidos;
Respostas genéricas;
Fadiga do conteúdo.

Se conteúdo vira commodity, ele perde valor, e consigo o valor da autoria. E o mais preocupante: a experiência coletiva da internet está desaparecendo. Pensando pelo lado social: Durante anos, a internet unia pessoas em torno de memes, vídeos virais, discussões públicas. Agora, com cada usuário mergulhado em um feed personalizado por IA, perdemos o senso de comunidade e referência compartilhada.
O Pacto Pode Ser Reescrito?
Há tentativas de reconstrução. Algumas vindas das plataformas:
Reddit licenciou seu conteúdo à OpenAI por US$ 60 milhões por ano;
Stack Overflow fechou acordo com a Amazon;
Tecnologias como robots.txt e watermarking tentam conter o uso indiscriminado de conteúdo.
Mas a reação mais importante vem dos próprios criadores. No Brasil, nomes como Nath Finanças e Joel Jota já migraram parte da sua presença digital para: Newsletters pagas; Grupos no Telegram e WhatsApp; Produtos em plataformas como Hotmart e Hubla. O conteúdo está saindo do feed aberto e entrando em espaços privados, onde ainda existe controle e recompensa.

Comunidade M3 do Market Makers
Novas Oportunidades
Toda disrupção abre espaço para inovação. E toda mudança tem perdedores e vencedores.
Quem perde:
Agências de SEO com foco em volume e baixo valor;
Criadores genéricos, facilmente replicáveis por IA;
Portais dependentes exclusivamente de tráfego orgânico.
Quem ganha:
Especialistas com visão autoral e público fiel;
Marcas com comunidades próprias e canais diretos;
Plataformas que apostam em curadoria, autenticidade e identidade digital.
Onde podem existir oportunidades
Infraestrutura para comunidades independentes e monetização direta;
Modelos de IA verticais, com expertise contextual e aplicação setorial;
Soluções que amplificam a criação humana, sem substituí-la.
A era da escala deu lugar à era da confiança.
Um Novo Ecossistema
Se pararmos para pensar, a Internet e o próprio hábito de criar conteúdo online ainda são coisas novas. Não deveríamos ficar surpresos com mudanças.
A Internet já passou por outras transições: dos jornais aos blogs, dos blogs às redes, das redes ao feed infinito. Agora, a IA assume o papel de principal interface. Não é o fim da criação, nem da atenção. É o fim de um modelo — e o começo de outro. O impulso humano de ensinar, provocar, entreter e construir comunidade continua vivo. Mas ele precisará de novos caminhos, novos incentivos, novas ferramentas.

Colocado o desafio, fico ansioso para entender o que os empreendedores farão para evoluir a Internet.
Grande abraço,
Edu
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