Peter Thiel e a Melhor Entrevista que já li

Como podemos escapar da Grande Estagnação

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O bsb é focado em conteúdo original. Mas Peter Thiel, investidor do Vale do Silício, deu uma entrevista fantástica ao New York Times na última sexta-feira. Desde então, não consigo parar de pensar no que ele disse. Não concordei com tudo, mas todos deveriam ouvi-la. Aqui está o link. Organizei as ideias principais abaixo para chegar a algumas conclusões.

Caso tenha apenas um minuto:

  • Estamos vivendo uma estagnação tecnológica: Desde 1970, os grandes avanços ficaram restritos ao mundo digital. O progresso no mundo físico empacou.

  • Perdemos a ambição e a coragem de correr riscos: A sociedade ficou avessa à ousadia. Fundos e governos priorizam melhorias incrementais em vez de grandes saltos.

  • A política pode ser um vetor de ruptura: Peter Thiel vê em líderes anti-establishment uma tentativa (ainda falha) de destravar o progresso.

  • A tecnologia é a chave para o futuro — mas só se ousarmos: IA sozinha não basta. Precisamos resgatar o desejo de transformar o mundo físico, antes que seja tarde.

1) A Estagnação Tecnológica

De 1750 até 1970, a humanidade viveu 200 anos de rápido progresso tecnológico. Foi a era da industrialização, eletrificação, avanços em saneamento e medicina. No final desse período, surgiram os semicondutores e os computadores.

Também tivemos o Projeto Apollo, que levou o homem à Lua, o Projeto Manhattan da que criou a bomba atômica e o Concorde fez do voo em velocidade supersônica uma realidade.

Avião Concorde

Desde então, o ritmo desacelerou. De 1970 em diante, os avanços vieram basicamente do mundo digital: computador pessoal, internet, nuvem, smartphones, crypto e IA.

Mas e o mundo físico? A aviação evoluiu pouco. A exploração espacial empacou. Na medicina, ainda não curamos doenças como câncer. A energia nuclear continua ausente no dia a dia e nossa matriz energética segue poluída. Thiel resumiu assim:

Especialistas de diversas áreas dirão que houve melhorias. Mas estou falando de avanços óbvios, visíveis, inegáveis. Nós paramos de tê-los.”

De Volta para o Futuro

O filme De Volta para o Futuro 2 mostra como perdemos a ambição. Em 2015, os personagens encontram um mundo com carros voadores, skates flutuantes, roupas autolimpantes e hologramas. Já se passaram 10 anos desde 2015. Excluindo os smartphones, o mundo de 1985 e o de 2025 são parecidos.

Cena de De Volta ao Futuro 2

Por Que Empacamos?

Vários fatores contribuíram.

  • A contracultura dos anos 60 e 70 rejeitou os grandes sonhos tecnológicos.

  • A sociedade passou a valorizar o retorno às origens e a simplicidade.

  • O Vale do Silício focou no digital e abandonou o mundo físico.

  • O fim da Guerra Fria removeu o senso de urgência.

  • Governos, universidades e grandes empresas passaram a evitar riscos.

  • O foco hoje é prevenir catástrofes: aquecimento global, pandemias, IA descontrolada.

  • Perdemos o otimismo. Deixamos de acreditar num futuro melhor.

A arte reflete isso. Os filmes de ficção científica são quase sempre distopias. Alguns, como Greta Thunberg, sugerem até que devemos encolher a economia para alcançar a “sustentabilidade”.

Filmes Distópicos

2) Precisamos Tomar mais Risco

Thiel cita a falta de ousadia e ambição como uma das causas da estagnação.

Não fizemos progresso algum para curar a demência e o Alzheimer nos últimos 40 ou 50 anos”.

No campo da saúde o objetivo é sempre melhorar um pouco a vida dos pacientes, adicionar alguns anos de vida ou diminuir um pouco o envelhecimento. Estes objetivos são limitados. O que temos de mais avançado? Trocas de órgãos ou máquinas prolongam a vida.

Segundo Thiel, precisamos mirar mais alto. Por que não buscar a imortalidade? Por que não redesenhar o corpo humano e acabar com os limites biológicos?

Ele não exime o Vale do Silício de sua parcela de culpa. A maioria dos fundos e empreendedores foca em projetos incrementais ou inovações digitais (como aplicativos e marketplaces), e não em grandes saltos como os que vimos na primeira metade do século XX.

3) Política como Caminho

Trump e Thiel

Thiel foi o único grande nome da tecnologia a apoiar Donald Trump na eleição de 2016. Sua ideia era apoiar candidatos anti-establishment para romper com o status quo. Para ele, tanto a esquerda quanto a direita contribuíram para a estagnação.

Ele reconhece que Trump falhou nesse ponto, mas em sua opinião, ele teve um mérito: mudou os temas do debate e quebrou tabus. JD Vance, atual vice-presidente dos EUA, foi seu funcionário e é um protegido de Thiel. Ele ainda busca líderes dispostos a nos levar ao futuro. Acha que, sem progresso, a sociedade tende à radicalização. Ele sabe que suas apostas são arriscadas — e que muitas não dão certo. Como um bom investidor de Venture Capital, quando uma dá certo, ela compensa todos os fracassos.

4) Quando Elon Musk Desistiu de Marte

Thiel co-fundou o PayPal junto de Elon Musk. Mais tarde, pelo Founders Fund, foi um dos dois primeiros investidores da SpaceX, ao lado do junto do Capricorn (onde eu trabalhei). Segundo ele, Elon Musk desistiu de Marte em 2024 – não como um projeto cientifico, mas como projeto de uma nova civilização, com mais ambição e liberdade.

Musk disse a ele: “Mesmo em Marte, o governo socialista iria nos seguir”. A ideia de Marte como um novo começo tinha morrido. Thiel concluiu que se Trump perdesse, ele deixaria os EUA. Musk respondeu: “Não tem para onde ir”.

Imagem criada por IA de Musk como o Presidente de Marte

5) Inteligência Artificial não é o bastante

IA é a única exceção para a estagnação, mas Thiel se preocupa que ela pode reforça-la. Talvez a IA consiga acelerar o PIB em 1% ao ano, mas isso não é o bastante. Ela não vai resolver a falta de ambição. Não vai reiniciar os motores do progresso humano. Pior: IA pode ser conformista, previsível, entediante. Como o algoritmo da Netflix, que gera conteúdo infinito — mas medíocre.

6) “O Anticristo”

Essa é sua opinião mais radical. Para Thiel, o maior risco do mundo não são as ameaças existenciais, como aquecimento global ou bombas nucleares.

O risco é que estas ameaças sejam utilizadas para justificar um poder global central totalitário, que promete “paz e segurança” – e entrega um controle absoluto. Ele termina provocando que esse cenário seria algo semelhante ao Apocalipse descrito na Bíblia, em que o mundo está sob controle de uma pessoa, o Anticristo.

A ironia é que enquanto líderes de tecnologia são tratados como ameaças, o verdadeiro perigo vem dos que oferecem estabilidade em troca da liberdade. Isso tem precedentes históricos. Foi assim que nasceram ditaduras em todo o mundo.

Cena da Vingança dos Sith. Anakin Skywalker (Darth Vader) diz que trouxe “Paz, Liberdade, Justiça e Segurança para o seu novo império

Reflexões sobre o Brasil

Daqui do Brasil, um país isolado e distante dos principais centros econômicos e científicos, opiniões polêmicas como as de Peter Thiel parecem fora da realidade.

Mas é justamente por isso que quis trazê-las. A verdade é que o Brasil sofre da mesma doença: falta de ambição. E mudar isso é difícil — mas não impossível. A solução começa com a crença em um futuro melhor. Temos um dever moral de transformar a sociedade. A tecnologia é o melhor caminho. Isso exige risco, coragem, iniciativas descentralizadas (um líder sozinho não vai mudar tudo), e a disposição de agir — antes que seja tarde.

E eu sei que tenho um papel a cumprir.

Grande abraço,

Edu

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